Educação e Viagens Pedagógicas

Nem todos sabem, mas o turismo nasceu pedagógico. No século XVIII, os filhos abastados das famílias aristocráticas inglesas, quando concluíam os seus estudos, partiam por meses com os seus preceptores para um Gran Tour, principalmente pela França e Itália, com o intuito de aprofundar os seus conhecimentos e abrir os seus horizontes. A palavra EDUCAÇÃO vem do latim ‘duc’, que significa levar ou conduzir. Turismo e Educação, por conseguinte, são irmãos muito unidos pelo tempo e pelas semelhanças.

A rigor, toda viagem é pedagógica. Não há como não se aprender alguma coisa, a mínima que seja, em uma viagem. Viagens sempre trazem aprendizado. Mas, logicamente, quanto mais longa for a viagem, quanto mais distante e exótico for o destino, quanto mais curioso for o viajante, mais conhecimentos ele obterá nessa jornada. Entretanto, há como se fazer uma viagem com uma proposta realmente pedagógica. E este papel é da Escola.

Como adequar a prática turística à escola? Ou melhor, como unir a escola ao turismo? Isso parece difícil, e é mais do que parece. Quando falo de escola, estou falando de qualquer instituição de ensino. O turismo pedagógico pode ser muito bem empregado no ensino superior. São inúmeras as faculdades que promovem missões para diversas partes do mundo.

Qual é a grande dificuldade de se levar alunos para viajar? O fato é que todo deslocamento sempre atrai riscos, principalmente quando tratamos de crianças e adolescentes. Nesse caso, a escola tem que assumir toda a guarda dos alunos menores e se responsabilizar por tudo que lhes possa acontecer. É muita responsabilidade, e coragem maior ainda!

No entanto, há diversas escolas que têm projetos extraordinários no campo do turismo pedagógico e que são referência para todo o país. O que é necessário para que a sua também seja? Aqui deixo algumas dicas que podem ser úteis caso você deseje topar o chamado e sair da zona de conforto da velha rotina estática e comodista da escola.

Veja só, se nem a OMT (Organização Mundial de Turismo) consegue definir o que é turismo com total propriedade, imagine a dificuldade para encontrar a nomenclatura adequada para todas as atividades de uma escola que ocorrem fora dos seus limites geográficos. Não obstante, isso é necessário, pois as palavras têm força. Não adianta a escola se preparar, perder horas em planejamento e analise das propostas das agências, para depois ter que ouvir uma mãe perguntar: “Quando é o passeio?”. Escola não faz passeio, escola organiza e realiza estudos do meio, quando é uma viagem com a duração de um dia (city tour, visita a museu, laboratório, indústria, observatório, zoo etc.) ou viagens pedagógicas, quando há pernoite. É importante lembrar que essas iniciativas devem fazer parte de um projeto de turismo educacional sistematizado e estratégico da escola.

1. Tudo parte de um bom planejamento – É o conteúdo de cada ano que define o roteiro e o destino. Os educadores devem se reunir, preferivelmente antes do fim do ano letivo, e analisar o programa de cada grupo. O 6º ano, por exemplo, com poucas alterações, tem o costume de estudar rochas e fósseis. A primeira pergunta que a equipe de professores deve fazer é “onde temos na região um lugar em que podemos explorar este conteúdo programático?”.

2. O roteiro da viagem – Definido o destino, o grupo de educadores deve elaborar um roteiro que traga o máximo possível de experiências e informações relevantes para aquela faixa etária. É preciso ter cuidado para equilibrar bem as atividades. Não podemos preencher em demasia o dia dos alunos, tampouco é aconselhável se deixar muito tempo ocioso. A ociosidade raramente sugere coisa boa aos ouvidos, principalmente de crianças e adolescentes.

3. O orçamento da viagem – Conselho de amigo: não caia na tentação de “fazer com as próprias mãos”. Eu já perdi a conta das vezes em que vi escolas entrarem em roubadas porque escolheram economizar alguns tostões e realizar a sua viagem pedagógica sem o auxílio de uma agência especializada. O ideal é que, após ter definido o destino e o roteiro, a escola os envie para empresas de turismo nas quais confia. Depois, é só realizar uma concorrência simples.
Sugiro sempre se lembrar de que nem sempre o barato sai mais barato. Tentar economizar, por exemplo, com a qualidade de transporte, comida e alojamento, é sempre andar numa corda bamba, de olhos vendados e sem rede de proteção.

4. A viagem – A experiência me ensinou que há professores maravilhosos em sala de aula que não funcionam bem em ambiente externo, mas que há, também, o contrário. É uma questão de habitat ou de posição no campo. Laterais costumam jogar bem pelos lados do campo. Talvez não devamos colocá-los no ataque ou no gol. Nem todo mundo tem essa polivalência. Nem todo professor tem condições físicas e psicológicas para lidar com as exigências de uma viagem pedagógica. A escola deve escolher os seus líderes de expedições com crivo e prepará-los cuidadosamente para que possam viajar.

5. Professor não é guia nem babá – O professor não está ali apenas para cuidar dos alunos, mas também está! Não dá para bancar a autoridade e dizer “Vim para essa viagem como geógrafo!”. Isso não funciona assim. O geógrafo, de fato, foi para a viagem, mas não o ‘strictu senso’, pois na hora em que um aluno estiver doente ou quando diversos alunos decidirem fazer bagunça nos quartos às duas da manhã, a geografia não será muito requisitada. Se ajoelhou, meu caro, já sabe… Outra questão relevante é quanto ao papel do professor nas visitas. É função do guia apresentar as informações do lugar ou monumento. A do professor é a de fazer os links com a sala de aula, puxar uma reflexão, organizar a participação dos alunos, estimular a criatividade, fazer alusões ao conteúdo, e, principalmente, com o ‘storytelling’, reforçar o elemento emocional, traçando uma linha relacional entre o visitante e o visitado. Já vi muitas vezes o professor querer substituir o guia de turismo. Além de não ser muito elegante, não é adequado. O professor não pode se esquecer de que ele é mentor e não o Google. Os alunos têm o Google nas maõs, não precisam de outro. Eles necessitam de alguém que demonstre o sentido de se estar ali, vendo o que estão vendo, e não outra coisa. O que importa é a experiência com o lugar e não toda a informação que ele conseguirá tirar dali. Eu já contemplei muita gente que se diz educador que, numa viagem pedagógica ou estudo do meio, práticas essencialmente modernas de Educação, agem da mesma forma que sempre fazem em sala de aula. É a mesma atitude tradicional e expositiva, só que, em vez do ‘powerpoint’ ou do livro didático, ele tem o lugar turístico, ou a obra de arte, ou o monumento. É um grande desperdício de oportunidade. É o “quase lá”, porque poderia ter feito da forma ideal e não o fez. Poderia ter ousado sair da rotina engessada e não saiu. É o ranço conservador e centralizador da escola que segue os alunos aonde quer que eles vão.

6. O turismo pedagógico fideliza e atrai alunos – As escolas que conseguem transformar as suas viagens em um projeto sério e estratégico também alcançam êxito em atrair novos alunos e fidelizar os seus. Afinal, quem não quer fazer aquela viagem de estudos para Curitiba ou para Fernando de Noronha? Quem não quer aprender sobre arte no MASP ou no próprio Louvre? Quem não quer conhecer o ecossistema da Ilha do Cardoso ou do Pantanal? Qual aluno não iria querer entrar numa escola que faz tais programas? Qual aluno iria sair antes daquela grande viagem? Mas aí você deve estar se perguntando: “Não é muito caro?”. Infelizmente, dependendo da distância do destino, da duração da expedição, dos serviços, ingressos e opcionais inseridos, sim, pode ficar muito caro. Cabe aos gestores da escola planejar, levando em conta essas variáveis, e propor ideias realizáveis. Nessa hora, os pés precisam estar no chão. Mas é sempre bom que as cabeças possam subir um pouco para as nuvens. Já vi escolas realizando projetos e alcançando destinos que, a princípio, pareciam intangíveis. Ousar é necessário, mas sem nunca perder o tino.

A Griffe de Viagens traduz o turismo pedagógico e suas experiências em viagens com pernoite, em âmbito nacional e internacional, com roteiros personalizados e total apoio ao projeto pedagógico da escola.

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